Patrick Teyssonneyre*
Desenvolvimento tecnológico não é
tarefa simples. Na maioria das vezes demanda atuação conjunta, e em diversas
frentes, para se tornar realidade. No meio empresarial, há quem ainda considere
imprescindível conduzir, sozinho, uma nova solução ao mercado. Grande parte das
organizações, contudo, já percebeu as vantagens de inovar em parceria e têm
investido cada vez mais em colaboração para atingir o nível máximo de
eficiência e excelência.
Com a globalização, fica cada vez
mais difícil dominar todas as áreas e manter o perfil concentrador. Há muitas
oportunidades em abrir projetos para colaborações alheias, em compreensão de
que a inteligência precisa ser somada e compartilhada em prol do bem social e
por que não, mercadológico. A empresa que enxerga suas competências e,
principalmente, seus limites, consegue direcionar de forma mais clara o seu
foco, olhar para fora e buscar apoio para a demanda na comunidade externa.
Analisa-se o que pode ser feito com recurso interno e o que precisa de apoio
externo.
Nesse cenário, além dos acordos
com universidades, recorrentes principalmente nos países desenvolvidos, há um
crescimento expressivo da união entre grandes empresas e startups, num convite
direto à interação. A tendência, que também ganha espaço no Brasil, reforça o
conceito de que inovação é um meio, e não um fim.
Um bom processo de gestão de
inovação é um primeiro passo para percorrer o caminho do desenvolvimento de
novas soluções. Na escolha de potenciais parceiros, valoriza-se expertise e
know-how, que pode vir tanto de grandes como de pequenos parceiros. É uma
vantagem mútua, porque organizações maiores apoiam e auxiliam startups que, por
vezes, conseguem viabilizar desejos antigos dos gigantes comerciais.
Depois de encontrar o melhor sócio
para a empreitada, é o momento de analisar o mercado, considerar suas fragilidades,
tendências e evoluções tecnológicas, além das oportunidades já existentes e daquelas
que podem ser aceleradas. Compreendido o cenário, parte-se para a consolidação
da parceria.
Nas negociações são definidos
cada detalhe do empreendimento: desde a detenção da propriedade intelectual, a
forma como ela será explorada e monetizada, até a divisão dos ganhos e valores
de investimento. Outro aspecto importante é estabelecer a governança com
parceiros. Nessa etapa, comitês técnicos e de gestão, com representantes de
cada parte, tomam as decisões de forma transparente.
A partir daí iniciam-se os
trabalhos, com organização e foco. Investir em muitos projetos simultaneamente pode
significar perda de tempo, dinheiro e capital humano. A empresa precisa ter
clareza do que quer para si nos próximos anos, tanto no curto prazo, em até cinco
anos, como no longo prazo, considerando a próxima década.
Em setores de base, como o
químico e de commodities, os recursos são mais escassos e a inovação menos
visível aos olhos do consumidor, por isso o trabalho de apuração e viabilização
de novos produtos deve ser ainda mais cauteloso. Cada aposta é customizada e
analisada diversas vezes, por múltiplos agentes.
Na indústria petroquímica, por
exemplo, uma tendência é o investimento em pesquisas e modelos produtivos
baseados em fontes renováveis. Ao diversificar a base de produção, tem-se a
possibilidade de reunir diferentes segmentos com um foco comum: o
estabelecimento de rotas sustentáveis, que explorem o potencial brasileiro como
provedor de insumos naturais. A partir de matérias-primas “verdes”, como a
cana-de-açúcar, empresas, startups e universidades reforçam seus valores ambientais
e aliam-se à crescente demanda de mercado por produtos sustentáveis. É uma
estratégia que integra a possibilidade de evolução de forma responsável e
permanentemente alinhada às discussões contemporâneas.
Iniciativas como essas demonstram
a importância de acreditar e investir na inovação. Somente a partir de uma
atuação conjunta é possível fortalecer o propósito de desenvolvimento
colaborativo, gerando novas soluções competitivas para o mercado e que sejam compatíveis
com as demandas socioambientais.
*Patrick Teyssonneyre é diretor de Inovação e Tecnologia Corporativa da
Braskem
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