Por Marcos Hashimoto
O empreendedor sempre precisa contar com algum tipo de ajuda, nem sempre
financeira, para começar e fazer o seu negócio acontecer nos primeiros meses de
vida, os mais difíceis e instáveis. Muitos ‘anjos’ surgem para ajudá-lo, os
primeiros, claro, são os pais, amigos e parentes próximos. Parceiros e
entidades também ajudam bastante, muitos contribuem de diversas formas a troco
de nada, apenas pelo prazer de ajudar ou o desejo de contribuir com o
surgimento de um negócio no qual acreditam ou pelo simples fato de que este
novo negócio pode ajudá-lo direta ou indiretamente, pelo próprio
desenvolvimento econômico da comunidade.
Os investidores, por outro lado, tem interesses puramente financeiros,
querem ganhar dinheiro. Aplicar capital em uma empresa nascente é um
investimento de altíssimo risco e, para compensar este risco, o investidor
espera altos ganhos. Para conseguir este tipo de investimento, o empreendedor
precisa demonstrar a viabilidade do negócio e sua estratégia para minimizar o
risco o quanto puder e são estas justificativas e argumentos que devem dar
credibilidade ao negócio para atrair a atenção de um potencial investidor.
Mas existe uma categoria de investidor que pode ser anjo também e ter
interesses financeiros. São os investidores. Por serem investidores, esperam
altos retornos sobre o capital aplicado no negócio e assumem os riscos
inerentes a estes negócios nascentes, mas também procuram contribuir para
ajudar o negócio a ser bem sucedido, por meio de conselhos, contatos, apoio,
conhecimento e recursos.
Segundo a Startup Ecosystem Report, a cidade de São Paulo representa o
Brasil ocupando 13º lugar no ranking mundial de ecossistemas empreendedores. Um
ecossistema empreendedor é um conjunto de condições existentes no ambiente que,
juntos, favorecem e estimulam a atividade empreendedora de uma dada comunidade
ou localidade. Fazem parte deste ambiente a possibilidade de acesso a linhas de
crédito e capital de risco, educação e formação em empreendedorismo, geração de
inovação, políticas públicas, infraestrutura e sistemas de apoio e suporte,
ambiente econômico e cultura favorável à atividade empreendedora. O ecossistema
que lidera o ranking é o Vale do Silício, na região de São Francisco na
Califórnia.
A situação econômica favorável no Brasil vem atraindo mais fundos de
capital de risco que fogem de economias paralisadas como a europeia, em busca
de ganhos maiores, sobretudo entre os países de economia emergente. Além disso,
as taxas de juros em queda no Brasil sinalizam o investimento de risco como uma
alternativa viável de altos ganhos. Estes e outros fatores refletem no
crescimento rápido dos investidores anjos no Brasil. Cassio Spina, da Anjos do
Brasil, estima que existam mais de 6.300 investidores anjos aqui, com potencial
de investimento de mais de R$ 500 milhões. Ainda é pouco comparado com os mais
de US$ 20 bilhões dos 319 mil investidores anjos americanos, mas é
significativo ao considerarmos o pouco tempo de divulgação do conceito de
investimento anjo no Brasil.
Infelizmente, segundo Spina, os desafios para sedimentar este tipo de
investimento ainda são muitos. A falta de conhecimento, tanto de empreendedores
como investidores, sobre a relação legal que rege estes investimentos, ainda é
muito alta. Muitas pessoas com patrimônio pessoal acima de R$ 1 milhão (mais de
160 mil pessoas no país) ainda não consideram este tipo de investimento,
sobretudo por aversão ao risco, alta tributação e a complexidade burocrática
por trás dos processos.
Existe muito capital disponível e o capital anjo, também chamado de
capital semente, está crescendo. Ainda assim, os investidores não estão
investindo. Uma parte deste fenômeno é o excesso de zelo e cautela do
investidor anjo. Embora seja chamado de investimento de risco, risco é tudo que
estes investidores não querem assumir. Esta incoerência aparente se deve à
falta de maturidade do investidor em entender o significado do ‘assumir riscos’
ao avaliar uma oportunidade. Outra parte deste fenômeno é a falta de preparo do
empreendedor, que não sabe se apresentar, não sabe negociar, não sabe
demonstrar a competência para gerir o negócio ou simplesmente não tem perfil
empreendedor. Quando o investidor não sente firmeza no empreendedor, ele
prefere não prosseguir com a negociação, por melhor que seja sua ideia de
negócio.
Estes problemas, contudo, são comuns em qualquer lugar que esteja
estabelecendo uma nova cultura e definindo novos paradigmas. Talvez seja
necessário passar toda uma geração para que as relações dentro do ecossistema
entre investidores, empreendedores, órgãos de fomento, governo e entidades de
apoio evoluam para chegar ao ponto de não haver restrições para o investidor
anjo, empreendedores que falam a mesma língua do investidor e políticas
públicas que incentivem o surgimento de novos negócios de alto impacto. A sociedade como um todo será beneficiada com
o desenvolvimento econômico que estas empresas gerarão, na forma de renda e
emprego. Tenhamos paciência e continuemos trabalhando firmes para pavimentar
este caminho, pedra por pedra.
Marcos Hashimoto é coordenador do Centro de Empreendedorismo e Professor da FAAP, Doutor em Administração pela FGV, Autor de livros, Consultor e Palestrante.
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Excelente matéria, muito explicativa e vi esse texto num programa de televisão de canal fechado tem poucos dias. Tenho um negócio pequeno iniciando e sinceramente esse texto fala exatamente da nossa situação. Gostaria muito de ter um investidor anjo na minha vida e ajudar a sair desse terrível momento de instabilidade financeira.
ResponderExcluirEspero encontrar nesta ou em outra plataforma de interesses mútuos, empreendedor e investidor, uma área de exposição dos produtos dos empreendedores e interesses dos investidores bem como o contato entre os mesmos. Assim, na prática, haveria o desenvolvimento dos negócios, poderia a Anjos interceder, intermediar, conduzir as conversações que nem sempre são domínio, principalmente dos empreendedores que trazem muitas idéias mas sem o conhecimento em negociações. Os diversos cursos da Anjos, acho que são úteis, mas na prática de uma forma real, será imediato e bem mais proveitoso uma ação direta, uma mesa virtual de negociações.
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