/* Google Analytics */

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Os desafios do investimento anjo no Brasil

Por Marcos Hashimoto

O empreendedor sempre precisa contar com algum tipo de ajuda, nem sempre financeira, para começar e fazer o seu negócio acontecer nos primeiros meses de vida, os mais difíceis e instáveis. Muitos ‘anjos’ surgem para ajudá-lo, os primeiros, claro, são os pais, amigos e parentes próximos. Parceiros e entidades também ajudam bastante, muitos contribuem de diversas formas a troco de nada, apenas pelo prazer de ajudar ou o desejo de contribuir com o surgimento de um negócio no qual acreditam ou pelo simples fato de que este novo negócio pode ajudá-lo direta ou indiretamente, pelo próprio desenvolvimento econômico da comunidade.
Os investidores, por outro lado, tem interesses puramente financeiros, querem ganhar dinheiro. Aplicar capital em uma empresa nascente é um investimento de altíssimo risco e, para compensar este risco, o investidor espera altos ganhos. Para conseguir este tipo de investimento, o empreendedor precisa demonstrar a viabilidade do negócio e sua estratégia para minimizar o risco o quanto puder e são estas justificativas e argumentos que devem dar credibilidade ao negócio para atrair a atenção de um potencial investidor.
Mas existe uma categoria de investidor que pode ser anjo também e ter interesses financeiros. São os investidores. Por serem investidores, esperam altos retornos sobre o capital aplicado no negócio e assumem os riscos inerentes a estes negócios nascentes, mas também procuram contribuir para ajudar o negócio a ser bem sucedido, por meio de conselhos, contatos, apoio, conhecimento e recursos.
Segundo a Startup Ecosystem Report, a cidade de São Paulo representa o Brasil ocupando 13º lugar no ranking mundial de ecossistemas empreendedores. Um ecossistema empreendedor é um conjunto de condições existentes no ambiente que, juntos, favorecem e estimulam a atividade empreendedora de uma dada comunidade ou localidade. Fazem parte deste ambiente a possibilidade de acesso a linhas de crédito e capital de risco, educação e formação em empreendedorismo, geração de inovação, políticas públicas, infraestrutura e sistemas de apoio e suporte, ambiente econômico e cultura favorável à atividade empreendedora. O ecossistema que lidera o ranking é o Vale do Silício, na região de São Francisco na Califórnia.
A situação econômica favorável no Brasil vem atraindo mais fundos de capital de risco que fogem de economias paralisadas como a europeia, em busca de ganhos maiores, sobretudo entre os países de economia emergente. Além disso, as taxas de juros em queda no Brasil sinalizam o investimento de risco como uma alternativa viável de altos ganhos. Estes e outros fatores refletem no crescimento rápido dos investidores anjos no Brasil. Cassio Spina, da Anjos do Brasil, estima que existam mais de 6.300 investidores anjos aqui, com potencial de investimento de mais de R$ 500 milhões. Ainda é pouco comparado com os mais de US$ 20 bilhões dos 319 mil investidores anjos americanos, mas é significativo ao considerarmos o pouco tempo de divulgação do conceito de investimento anjo no Brasil.
Infelizmente, segundo Spina, os desafios para sedimentar este tipo de investimento ainda são muitos. A falta de conhecimento, tanto de empreendedores como investidores, sobre a relação legal que rege estes investimentos, ainda é muito alta. Muitas pessoas com patrimônio pessoal acima de R$ 1 milhão (mais de 160 mil pessoas no país) ainda não consideram este tipo de investimento, sobretudo por aversão ao risco, alta tributação e a complexidade burocrática por trás dos processos.
Existe muito capital disponível e o capital anjo, também chamado de capital semente, está crescendo. Ainda assim, os investidores não estão investindo. Uma parte deste fenômeno é o excesso de zelo e cautela do investidor anjo. Embora seja chamado de investimento de risco, risco é tudo que estes investidores não querem assumir. Esta incoerência aparente se deve à falta de maturidade do investidor em entender o significado do ‘assumir riscos’ ao avaliar uma oportunidade. Outra parte deste fenômeno é a falta de preparo do empreendedor, que não sabe se apresentar, não sabe negociar, não sabe demonstrar a competência para gerir o negócio ou simplesmente não tem perfil empreendedor. Quando o investidor não sente firmeza no empreendedor, ele prefere não prosseguir com a negociação, por melhor que seja sua ideia de negócio.
Estes problemas, contudo, são comuns em qualquer lugar que esteja estabelecendo uma nova cultura e definindo novos paradigmas. Talvez seja necessário passar toda uma geração para que as relações dentro do ecossistema entre investidores, empreendedores, órgãos de fomento, governo e entidades de apoio evoluam para chegar ao ponto de não haver restrições para o investidor anjo, empreendedores que falam a mesma língua do investidor e políticas públicas que incentivem o surgimento de novos negócios de alto impacto.  A sociedade como um todo será beneficiada com o desenvolvimento econômico que estas empresas gerarão, na forma de renda e emprego. Tenhamos paciência e continuemos trabalhando firmes para pavimentar este caminho, pedra por pedra.

Marcos Hashimoto é coordenador do Centro de Empreendedorismo e Professor da FAAP, Doutor em Administração pela FGV, Autor de livros, Consultor e Palestrante.
Achou este post útil? Compartilhe com seus amigos e conhecidos, bastando clicar nos ícones do twitter, facebook, etc. abaixo ou ao lado